- Tantas vezes na vida ficamos paralisados, certos de que não conseguiremos avançar. Damos a isto o nome de medo,um sentimento que anestesia nossas ações e nossos pensamentos. Depois de esmiuçar esta questão em algumassessões de terapia e em longas conversas com amigos, dei-me conta de que o salto que precisamos dar para sair deuma área de desconforto não é tão fácil assim. Mas o alívio que sentimos ao romper com o que nos incomodacompensa as pernas trêmulas, a garganta seca, a respiração arfante.Manter velhos hábitos, acomodar-se dentro de uma rotina morna, mas não necessariamente torturante, faz comque resistamos a qualquer tipo de ruptura. Vamos levando a vida em banho-maria, cozinhando lentamente osnossos sentimentos, como se a eternidade andasse de mãos dadas conosco. Gostamos de nos sentir seguros,confortáveis. Pagamos para não nos incomodar, na tão conhecida expressão que simboliza essa verdade.Dar um salto no escuro é sempre temeroso, mas a liberdade que disso advém justifica tudo. A gente fica apavoradocom a ideia da solidão afetiva, do hiato entre um emprego e outro, da mudança de casa. Habituados aoterreno conhecido, hesitamos muito antes de dizer “chega!”. Olhamos para o lado e, na descoberta de pessoasem situações menos favoráveis do que a nossa , depomos as armas. Preferimos a lenta agonia dos amores que sópodem ser conjugados no passado do que a coragem de ousar em busca de um relacionamento com mais frescor.Resistimos em trocar a estabilidade pelo desconhecido.Onde encontrar disposição para começar tudo novamente?Esse cansaço antecipado nos priva de conhecer outras realidades. Embora, em nossos dias, tenhamos à disposiçãoum manancial de escolhas em quase todas as áreas, parece que a inércia resulta exatamente disso.Ficamos estáticos diante da possibilidade de ter feito a aposta errada. A angústia é o subproduto das prateleirascheias que se apresentam como o paraíso a nossa disposição.Se faço uma investigação mental, descubro que o que de melhor aconteceu na minha vida resultou da capacidadede dizer não diante do que agonizava. Quando extraí forças de dentro de mim para partir tive a certeza de que essadecisão me devolveria a paz perdida. É claro que essa atitude implica em remexer nos escaninhos das emoções,principalmente daquelas que nos imobilizam. Mas quando aprendemos a olhar de frente esse monstro de olhosnegros, descobrimos que ele não é tão assustador assim. Sem contar que enfraquecemos quem se vale de algum tipode poder que tem sobre nós. Todos conhecemos alguém que, apesar de ser brilhante, capaz e independente,permanece anos e mais anos atrelado a situações francamente hostis.O exemplo mais emblemático é o de casais que, comprometidos com a criação de seus filhos, jogam para baixo dotapete o rancor acumulado ao longo dos anos. Temendo machucar crianças que acreditam incapazes deentender uma separação, optam por uma existência paralela como válvula de escape, diante da impossibilidade defazer as mala e partir. Sabem que há uma forte chance de um segundo ato, mas o evitam, porque o resultado dessastentativas costuma deixar na alma algumas escoriações. Mesmo num exame superficial de consciência descubroque muitas vezes suportei ser humilhado, sentindo vontade de desaparecer da face da terra, simplesmente portemer a perda do amor e do respeito de quem eu admirava. Quando percebi que podia romper com essadependência e sobreviver, reiniciei as melhores fases de relacionamento comigo mesmo. A isso se chamacuidar de si. Proteger-se. Não deixar que o medo se avolume até o ponto de nos debilitar, quando não de nosmatar com assustadora antecipação.Muitas vezes a constatação tardia do tempo perdido nos enraivece. Mas não podemos esquecer que é mais difícilromper um vínculo de qualidade duvidosa do que aquele que navega em mar sereno. Nossa mente vai porcaminhos que nem sempre compreendemos. Cabe a nós recompor psicologicamente o tecido das decisões antesque ele esgarce e só nos reste o arrependimento.
sábado, 13 de julho de 2013
O MEDO É SÓ O MEDO
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