sexta-feira, 27 de julho de 2012


O amor vagava por dentro
Mais forte do que você
Mais forte do que eu
E agora que ele aconteceu
Não podemos voltar
Só podemos nos tornar um

Refrão:
E eu nunca estarei longe
demais para sentir você
E não hesitarei de jeito nenhum
Sempre que você chamar
E sempre lembrarei
Daquela parte de você tão terna
Eu serei aquela que apanhará sua queda
Sempre que você chamar

E estou verdadeiramente inspirada
Encontrando minha alma lá nos seus olhos
E você abriu meu coração
E me levantou por dentro
Mostrando-se a mim sem disfarce

E eu rezarei por você a cada dia
Confortarei você por toda a dor
Gentilmente darei um beijo de adeus aos seus medos
Você pode se virar para mim e chorar
Entenda sempre que eu
Lhe dou tudo que tenho dentro de mim

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A natureza do mal



Durante muito tempo resisti em definir as pessoas como boas ou ruins, simplesmente. Preferia adotar um sistema de classificação pessoal que me permitisse ver a todos como uma mescla de comportamentos que ora pendiam para um lado, ora para o outro. Não gosto dessas visões reducionistas, que traduzem tudo como preto ou branco. Sem nuances. Motivados por interesses individuais, cada um de nós manifesta suas características positivas ou nefastas ao sabor das circunstâncias. Nem nos preocupamos muito em controlá-las. Geralmente são inofensivas ou, quanto muito, de curto alcance, visando prejudicar algum desafeto do momento.

A convivência quase que diária com alguém que se inclina claramente para o mal está fazendo com que eu mude de opinião. Sim, em algum instante de nossa vida acabamos esbarrando em criaturas que se comprazem em prejudicar os outros, que se nutrem de ressentimento e têm um total descaso pela dor que estão provocando. Criam um inferno ao seu redor unicamente por existirem. E assim o é porque fazem todo o esforço possível para escurecer o espaço que ocupam. São muito infelizes e projetam seu rancor sobre colegas e até desconhecidos.

Penso nesse ser embrutecido que, por enquanto, sou obrigado a suportar. À luz da psiquiatria, poderia ser catalogado como um psicopata. Tudo está bem desde que não seja contrariado. Porém, diante da menor adversidade, da discordância saudável que muitas vezes o contato mais próximo gera, o monstro que dorme dentro dele desperta. Muitas vezes não se dá em forma de agressividade, mas de ironia, de frases de sentido dúbio, de sorrisos debochados. Exercita sua crueldade sem perder a calma. Desconfio que seria capaz de matar alguém com uma frieza digna de um personagem de Hitchcock.

Sem poder, já tem se revelado perigoso. Fico imaginando se tivesse algum cargo, como se deleitaria em espalhar terror e medo a quilômetros de distância. Muitas vezes me ponho a observar o tipo de linguagem que usa, como se veste, os amigos ao redor de quem gravita. Tento traçar um perfil mais exato na tentativa quase desesperada de me proteger. Tudo em vão, pois se há uma característica que define essas almas doentias é a inteligência ou, mais precisamente, a astúcia. Costumam ser excelentes profissionais, os primeiros a chegar e os últimos a sair de sua sala de trabalho. Aparentemente amam o que fazem, mas o propósito é outro. Ao se excederem em suposta dedicação nada mais pretendem do que abocanhar todo conhecimento possível para que ele não seja dividido com mais ninguém. O nome correto que se deve dar a isso é egoísmo.

Gostaria de estar, por algumas horas, dentro de sua cabeça psiquicamente deformada. Será que sente remorso? A dor dos outros o deixa indiferente? Pode-se esperar que mude? Questões para as quais acredito não obterei resposta alguma. Enquanto isso, reflito sobre a natureza do mal, sobre o que nos leva a sentir prazer em humilhar quem partilha conosco a alegria de estar produzindo, de estar em contato com quem pode nos ensinar a alquimia da existência.

Talvez um dia os laboratórios farmacêuticos consigam inventar um remédio que cure esta patologia. O pequeno consolo que nos resta é saber que provavelmente todo o veneno que destilam também circula em suas veias. Imagino-os retorcendo-se interiormente em busca de novas ideias maquiavélicas. O cansaço que isso deve dar! Que os deuses nos protejam de quem se compraz em matar. Mesmo que seja só com palavras.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Tempo...

Quando você encontrar a outra metade da sua alma, você vai entender porque todos os outros amores deixaram você ir. Quando você encontrar a pessoa que realmente merece o seu coração, você vai entender porque as coisas não funcionaram com todos os outros..
O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina."
Rubem Alves
Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...


Mario Quintana

domingo, 15 de julho de 2012

Coisas velhas



Somos vistos com desconfiança por quem é praticante da velocidade, da urgência, das novas estratégias

Troco qualquer casa nova por uma antiga. Adoro porões, sótãos, corredores... Gosto do que tem cheiro de tempo, do que é rugoso, áspero, manchado. O que reluz tem sua beleza, ninguém há de negar, mas não possui a força do que é lentamente macerado pelas horas, acumulando em suas dobras feições definitivas. O novo movimenta o mundo, seduz pelo brilho, pela intensidade de tons. Mas não há nada que se compare a um cartaz desbotado, um homem vergado caminhando lentamente por uma rua, uma toalha com seus bordados descoloridos.

Há uma espécie de conspiração pairando no ar. Esconde-se o que já foi usado sob o risco de parecer anacrônico. Somos analisados, aprovados ou rejeitados, pela possibilidade que temos de adquirir bens. Lojas lançam campanhas para nos mostrar que estamos ultrapassados, guardando objetos com mais de seis meses de uso. Publicitários eficientíssimos no convencimento alheio afiam sua criatividade para nos provar que espertos são os que olham para frente, se possível prevendo, imaginando, intuindo o que nos agradará. Nada de ficar parado, devaneando. Nada de ficar acariciando o que tem alguma marca, sulcos que mostram resquícios de uma memória feita de presenças indeléveis.

Preciso desafiar essa ditadura branda, pois corro o risco de me perder nesse mar de ofertas. Quero me debruçar atentamente sobre o que me acompanha há vinte, trinta anos. A página amarelada de um livro, uma camiseta gasta, um sofá esquecido num canto e aquela árvore que parece ter estado sempre ali, gravitando em meio a sua sombra. Pratico com meus amigos a fidelidade dos amantes apaixonados. Acumulo palavras, choros, mortes e nascimentos, uma alegria que não cabe no corpo. E enquanto olho para as estradas soterradas sob o asfalto, busco o perdido som que os sapatos faziam em contato com a terra. Uma pequena rachadura mostra um broto que se esgueira em busca de sol. Não posso comprar em nenhum mercado essa sensação de eternidade, de algo que não terminará jamais dentro de mim.

Penso nesses amores pueris que duram duas ou três semanas. Jovens conhecendo o cansaço antes da descoberta. Eu sei, eu sei, quem de nós já não foi seduzido e logo se enfarou? O que me entristece é ver que continuamos nos enfastiando rapidamente aos sessenta, setenta anos de idade. Daqui a pouco daremos o mesmo destino das coisas a quem cometeu o pecado de envelhecer. Até o que digo soa tão ultrapassado... O desejo da permanência é confessado discretamente, com medo de sermos punidos por esse crime execrado pelos guardiões do que reluz.

Remanescentes de uma época que idolatra o progresso, somos vistos com desconfiança por quem é praticante da velocidade, da urgência, das novas estratégias. Oradores de voz inflada nos incitam a jogar fora tudo o que não tem mais utilidade. Sim, esvaziar gavetas é um ato de sanidade mental. Mas precisamos nos desfazer de tudo, tudo mesmo? Como jogar fora aquele bilhete cheio de pequenos corações e frases banhadas de adolescência? E o estojo de lápis de cor que ainda guarda em suas pontas arco-íris, florestas, riachos amanhecendo? E, diga-me, o que faço senão amar sigilosamente o poema de Cecília que carrego desde sempre em minha pasta?

Guardar, que é diferente de acumular, passou a ser um ato quase subversivo. Mas não há traição maior do que etiquetar como inútil tudo o que não tem valor prático. Quero um museu para colocar em prateleiras de vidro todas as lembranças que vão envelhecendo comigo. Não pretendo ser um homem sem passado. Irei caminhando ao encontro dos dias com a certeza de que terei sempre perto de mim um imenso baú para adormecer a saudade.

sexta-feira, 6 de julho de 2012


Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Vinícius de Moraes

Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a  Deus a cada minuto pelo milagre da vida.
Fernando Pessoa

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A MORTE NÃO É NADA - SANTO AGOSTINHO




A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.

Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.

Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.

A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria for a de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista ?

Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Você sempre será especial !!!!!!

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou. 
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. 

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. 
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. 

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. 
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo. 

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido. 
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo. 

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. 
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. 

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. 
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. 

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido. 
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

terça-feira, 3 de julho de 2012

''Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca, 
É não ver o futuro que nos convida.''

Pablo Neruda

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Se fosse comigo...



Comigo e contigo – um mundo separa estas duas palavras
Sempre temos a solução ideal para os problemas dos outros. Quantas vezes, diante de um amigo que nos confidencia suas angústias, espantamo-nos como ele pode não encontrar a solução para o que o aflige. Tão simples, meu Deus, porque não faz isso, e mais isso, e mais aquilo. Ah, se fosse comigo... Tornamo-nos experts em conselhos que raramente usamos nas situações que nos envolvem. E o mais grave neste tipo de postura é que costumamos legislar sobre fatos que passam longe da nossa experiência. Somos grandes teóricos. Enchemos a boca com frases de efeito para propor o caminho ideal. Tenho aprendido, com alguns desvios de rota, que só temos o direito de falar sobre aquilo que já vivenciamos. E com restrições, pois cada um de nós reage de forma diferente, embora o roteiro pareça prosaicamente igual.

Imaginamos ser tão fácil (quando não é com a gente) superar o fim de um longo relacionamento, a morte de uma pessoa querida, a demissão de um emprego, a longa viagem de um filho. Nossa tendência imediata é sacar da manga uma fórmula quase sempre decorrente de uma observação ligeira, extraída de algo que vimos ou ouvimos falar. Ao longo dos anos, tenho tentado me omitir de dar opiniões levianas. Isso exige uma boa disciplina e um autocontrole maior ainda. Mas o resultado é uma boa dose de prudência na avaliação do humano e suas vicissitudes. Até porque quase nunca alcançamos as motivações que freiam ou impulsionam o comportamento alheio. Nem um profissional do campo psíquico, treinado ao longo dos anos, consegue sempre induzir seu paciente nas escolhas mais acertadas. Somos essa montanha de subjetividade que obedece a critérios individuais. O que vale pra mim, não vale pra ti. O previsível desaparece diante das emoções. Tolo aquele que, ao ser indagado sobre como reagiria frente a um assalto, por exemplo, tem uma resposta pronta, longe do sombreamento da dúvida e da elevada pulsação cardíaca que dele provavelmente se apoderaria.

Faço um exame de consciência e descubro que, na maioria das vezes em que pedi a opinião de alguma pessoa para elucidar uma dúvida ou encontrar um norte, segui o oposto do sugerido. Queremos, quanto muito, um ouvido atento para o que nos aflige. O passo seguinte, o da decisão, já não pertence mais a terceiros. Ao dizer isso, não me furto em reconhecer a importância de uma presença amiga. Não quero defender aqui a tese da autossuficiência. Há uma impressionante interdependência em tudo, sempre nos ensinaram os grandes iniciados das tradições religiosas. Claro que deletamos isso rapidamente, arvorando-nos poderes absolutos de decisão. Esquecemos, no entanto, que tudo aquilo que não sangra a alma está fadado a se tornar mera especulação.

Cada um sabe onde fica o seu nó górdio. O que desmente o poder de qualquer estatística. Não importa se oitenta por cento das pessoas reagem assim, eu tenho todo o direito de escolher o contrário. Se alguém se divorciou no mês passado e já está em busca de uma nova parceira na noite, ótimo para ele. Sinal que seu poder de recuperação afetiva é muito rápido. Ou não – pode ser uma reação desesperada para fugir da solidão que não conhecia há tantos anos. Como vamos saber? Deixemos que use os instrumentos interiores de que dispõe para amenizar um momento tão dramático como é o de uma ruptura amorosa. O mesmo vale para o luto. Uns se recuperam rapidamente. Outros precisam de meses, quando não de anos, para ressignificar a existência. Vamos repetir: só devemos falar daquilo que se conhece organicamente.

Comigo e contigo – um mundo separa essas duas palavras, essas duas identidades. O histórico de cada um costuma ser determinante para explicar muitas escolhas. Mas há uma área secreta onde deveríamos nos abrigar toda vez que desmoronamos. Nem sempre é possível encontrar uma voz sábia pronta a nos orientar em momentos difíceis. Mas ao mergulhar nesse misterioso espaço onde habitam os nossos fantasmas (o inconsciente ou o espírito, é somente uma questão de nome) estaremos inclinados a compreender melhor o silêncio e a prisão em que cada um está encerrado. Conhecemos pouco de nós e menos ainda dos que nos cercam. Ignorar isso é o primeiro passo para matar a tolerância e a compaixão.