Comigo e contigo – um mundo separa estas duas palavras
Sempre temos a solução ideal para os problemas dos outros. Quantas vezes, diante de um amigo que nos confidencia suas angústias, espantamo-nos como ele pode não encontrar a solução para o que o aflige. Tão simples, meu Deus, porque não faz isso, e mais isso, e mais aquilo. Ah, se fosse comigo... Tornamo-nos experts em conselhos que raramente usamos nas situações que nos envolvem. E o mais grave neste tipo de postura é que costumamos legislar sobre fatos que passam longe da nossa experiência. Somos grandes teóricos. Enchemos a boca com frases de efeito para propor o caminho ideal. Tenho aprendido, com alguns desvios de rota, que só temos o direito de falar sobre aquilo que já vivenciamos. E com restrições, pois cada um de nós reage de forma diferente, embora o roteiro pareça prosaicamente igual.
Imaginamos ser tão fácil (quando não é com a gente) superar o fim de um longo relacionamento, a morte de uma pessoa querida, a demissão de um emprego, a longa viagem de um filho. Nossa tendência imediata é sacar da manga uma fórmula quase sempre decorrente de uma observação ligeira, extraída de algo que vimos ou ouvimos falar. Ao longo dos anos, tenho tentado me omitir de dar opiniões levianas. Isso exige uma boa disciplina e um autocontrole maior ainda. Mas o resultado é uma boa dose de prudência na avaliação do humano e suas vicissitudes. Até porque quase nunca alcançamos as motivações que freiam ou impulsionam o comportamento alheio. Nem um profissional do campo psíquico, treinado ao longo dos anos, consegue sempre induzir seu paciente nas escolhas mais acertadas. Somos essa montanha de subjetividade que obedece a critérios individuais. O que vale pra mim, não vale pra ti. O previsível desaparece diante das emoções. Tolo aquele que, ao ser indagado sobre como reagiria frente a um assalto, por exemplo, tem uma resposta pronta, longe do sombreamento da dúvida e da elevada pulsação cardíaca que dele provavelmente se apoderaria.
Faço um exame de consciência e descubro que, na maioria das vezes em que pedi a opinião de alguma pessoa para elucidar uma dúvida ou encontrar um norte, segui o oposto do sugerido. Queremos, quanto muito, um ouvido atento para o que nos aflige. O passo seguinte, o da decisão, já não pertence mais a terceiros. Ao dizer isso, não me furto em reconhecer a importância de uma presença amiga. Não quero defender aqui a tese da autossuficiência. Há uma impressionante interdependência em tudo, sempre nos ensinaram os grandes iniciados das tradições religiosas. Claro que deletamos isso rapidamente, arvorando-nos poderes absolutos de decisão. Esquecemos, no entanto, que tudo aquilo que não sangra a alma está fadado a se tornar mera especulação.
Cada um sabe onde fica o seu nó górdio. O que desmente o poder de qualquer estatística. Não importa se oitenta por cento das pessoas reagem assim, eu tenho todo o direito de escolher o contrário. Se alguém se divorciou no mês passado e já está em busca de uma nova parceira na noite, ótimo para ele. Sinal que seu poder de recuperação afetiva é muito rápido. Ou não – pode ser uma reação desesperada para fugir da solidão que não conhecia há tantos anos. Como vamos saber? Deixemos que use os instrumentos interiores de que dispõe para amenizar um momento tão dramático como é o de uma ruptura amorosa. O mesmo vale para o luto. Uns se recuperam rapidamente. Outros precisam de meses, quando não de anos, para ressignificar a existência. Vamos repetir: só devemos falar daquilo que se conhece organicamente.
Comigo e contigo – um mundo separa essas duas palavras, essas duas identidades. O histórico de cada um costuma ser determinante para explicar muitas escolhas. Mas há uma área secreta onde deveríamos nos abrigar toda vez que desmoronamos. Nem sempre é possível encontrar uma voz sábia pronta a nos orientar em momentos difíceis. Mas ao mergulhar nesse misterioso espaço onde habitam os nossos fantasmas (o inconsciente ou o espírito, é somente uma questão de nome) estaremos inclinados a compreender melhor o silêncio e a prisão em que cada um está encerrado. Conhecemos pouco de nós e menos ainda dos que nos cercam. Ignorar isso é o primeiro passo para matar a tolerância e a compaixão.
Sempre temos a solução ideal para os problemas dos outros. Quantas vezes, diante de um amigo que nos confidencia suas angústias, espantamo-nos como ele pode não encontrar a solução para o que o aflige. Tão simples, meu Deus, porque não faz isso, e mais isso, e mais aquilo. Ah, se fosse comigo... Tornamo-nos experts em conselhos que raramente usamos nas situações que nos envolvem. E o mais grave neste tipo de postura é que costumamos legislar sobre fatos que passam longe da nossa experiência. Somos grandes teóricos. Enchemos a boca com frases de efeito para propor o caminho ideal. Tenho aprendido, com alguns desvios de rota, que só temos o direito de falar sobre aquilo que já vivenciamos. E com restrições, pois cada um de nós reage de forma diferente, embora o roteiro pareça prosaicamente igual.
Imaginamos ser tão fácil (quando não é com a gente) superar o fim de um longo relacionamento, a morte de uma pessoa querida, a demissão de um emprego, a longa viagem de um filho. Nossa tendência imediata é sacar da manga uma fórmula quase sempre decorrente de uma observação ligeira, extraída de algo que vimos ou ouvimos falar. Ao longo dos anos, tenho tentado me omitir de dar opiniões levianas. Isso exige uma boa disciplina e um autocontrole maior ainda. Mas o resultado é uma boa dose de prudência na avaliação do humano e suas vicissitudes. Até porque quase nunca alcançamos as motivações que freiam ou impulsionam o comportamento alheio. Nem um profissional do campo psíquico, treinado ao longo dos anos, consegue sempre induzir seu paciente nas escolhas mais acertadas. Somos essa montanha de subjetividade que obedece a critérios individuais. O que vale pra mim, não vale pra ti. O previsível desaparece diante das emoções. Tolo aquele que, ao ser indagado sobre como reagiria frente a um assalto, por exemplo, tem uma resposta pronta, longe do sombreamento da dúvida e da elevada pulsação cardíaca que dele provavelmente se apoderaria.
Faço um exame de consciência e descubro que, na maioria das vezes em que pedi a opinião de alguma pessoa para elucidar uma dúvida ou encontrar um norte, segui o oposto do sugerido. Queremos, quanto muito, um ouvido atento para o que nos aflige. O passo seguinte, o da decisão, já não pertence mais a terceiros. Ao dizer isso, não me furto em reconhecer a importância de uma presença amiga. Não quero defender aqui a tese da autossuficiência. Há uma impressionante interdependência em tudo, sempre nos ensinaram os grandes iniciados das tradições religiosas. Claro que deletamos isso rapidamente, arvorando-nos poderes absolutos de decisão. Esquecemos, no entanto, que tudo aquilo que não sangra a alma está fadado a se tornar mera especulação.
Cada um sabe onde fica o seu nó górdio. O que desmente o poder de qualquer estatística. Não importa se oitenta por cento das pessoas reagem assim, eu tenho todo o direito de escolher o contrário. Se alguém se divorciou no mês passado e já está em busca de uma nova parceira na noite, ótimo para ele. Sinal que seu poder de recuperação afetiva é muito rápido. Ou não – pode ser uma reação desesperada para fugir da solidão que não conhecia há tantos anos. Como vamos saber? Deixemos que use os instrumentos interiores de que dispõe para amenizar um momento tão dramático como é o de uma ruptura amorosa. O mesmo vale para o luto. Uns se recuperam rapidamente. Outros precisam de meses, quando não de anos, para ressignificar a existência. Vamos repetir: só devemos falar daquilo que se conhece organicamente.
Comigo e contigo – um mundo separa essas duas palavras, essas duas identidades. O histórico de cada um costuma ser determinante para explicar muitas escolhas. Mas há uma área secreta onde deveríamos nos abrigar toda vez que desmoronamos. Nem sempre é possível encontrar uma voz sábia pronta a nos orientar em momentos difíceis. Mas ao mergulhar nesse misterioso espaço onde habitam os nossos fantasmas (o inconsciente ou o espírito, é somente uma questão de nome) estaremos inclinados a compreender melhor o silêncio e a prisão em que cada um está encerrado. Conhecemos pouco de nós e menos ainda dos que nos cercam. Ignorar isso é o primeiro passo para matar a tolerância e a compaixão.
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