sábado, 9 de abril de 2011

DESEJOS atendidos


Sonho satisfeito, frustração à vista

Volta e meia ponho-me a pensar nesta frase do escritor Oscar Wilde: “Só existem duas tragédias na vida de um homem: a primeira é não conseguir o que ele mais deseja; a segunda é conseguir.” Por que isso é tão recorrente? Quando realizamos um projeto, muitas vezes precedido de grande expectativa, logo, logo, derrapamos na melancolia. É como se um dique tivesse estourado e não conseguíssemos mais represar a água que tudo inunda. Como se o tamanho do nosso sonho não coubesse mais dentro da vida real. E isso não se constitui numa exceção ou numa espécie de vício de almas desocupadas. Ao contrário, esse sentimento de inadequação entre o desejo e a sua realização assola até as pessoas mais pragmáticas. Essas que depois do primeiro gole do café da manhã saem para a ação, numa renovada tentativa de mudar a composição do mundo.

Difícil entender por que somos assim. Vejo essa atitude em quem tem fé e em ateus, em gênios e em pessoas simples, em crianças e em velhos, em tristes e em felizes com a vida. Sonho satisfeito, frustração à vista. Constato isso até nos casais que antes juravam amor eterno pelos cantos da casa. Observo também no homem que empenhou a vida para ter em sua cama o corpo da mulher que desejava ardentemente. E no empresário casmurro que por tanto tempo empilhou dinheiro no cofre, escondendo-o com zelo. Quando não fica um resíduo, uma ponta do não realizado, é sempre a mesma tragédia. E o sussurro discreto que chega aos ouvidos mais atentos: “Então, foi pra isso que eu lutei tanto?”

É na esperança que firmamos nossos propósitos, mas como uma espécie de carta que lançamos ao mar na secreta expectativa de que ela jamais seja encontrada. O fato de escrevê-la já contém a resposta. Às vezes parecemos aquele menino mimado que atazana a vida dos pais para ter o mesmo brinquedo do colega de aula. Esse brinquedo que se tornará irrelevante assim que estiver em suas mãos. O mais bonito é sempre o inalcançado. Amorosa espera que regula o ritmo do coração e o põe em disparada. Eterna busca pelo doce trancado na vitrine da confeitaria.

Uma pista para entender isso. Quando obtemos algo, quase imediatamente passamos a descuidar do que antes nos dava a sensação de ser tudo o que precisávamos. Deixamos lá, atirado num canto, esquecido como uma vassoura de cerdas gastas. Amores terminam assim, amizades idem. Como admirar o que está (e pensamos, erradamente, sempre estará) ao alcance de nossas mãos? Quando a morte interrompe essa pretensão tão humana, saímos pelas ruas ganindo como um cão açoitado pelo passante insensível. Perder, ganhar, saber como tudo é frágil. Consciência relâmpago que não apaga o nosso andar rumo a tantas insatisfações. Talvez seja bom pensar um pouco antes de pedir algo. Os deuses, desejosos de se divertir com nossa trôpega ansiedade, podem nos conceder o que mais queremos.

Portanto, reflita duas vezes antes de percorrer as contas do seu rosário particular. Não peça só para alcançar, mas a renovação do desejo também. Não nos dizem os especialistas que a depressão costuma ser quase sempre a falta de vontade em continuar querendo, a paralisia diante do espetáculo do mundo? Olhar, olhar e se sentir imensamente enfastiado, com o rosto virado para o lado, afundando-o no travesseiro – tal é a nossa condição no mais das vezes.

São de Santa Teresa essas lúcidas palavras: “Mais lágrimas são derramadas por súplicas atendidas do que pelas não atendidas.”

Suplique menos, portanto. Alguém pode ouvir e atendê-lo.

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