Estamos banalizando a fé, escolhendo os caminhos mais fáceis
A vida pode ser um parque de diversões. Duvido que alguém conheça a palavra tédio se ficar algumas horas procurando por curiosidades na internet. Foi o que eu fiz recentemente, depois de ter sido informado da existência de um site chamado Macumba On-line. É surreal. O anúncio do portal diz: “Tudo o que você conseguiria fazer num terreiro, na tela do seu computador”. Nada é impossível se acessar essa entrada para o paraíso. As promessas vão desde engordar a sua ex-namorada até fazer alguém que não lhe é muito caro desenvolver incontinência urinária. Mas são só dois exemplos de um leque gigantesco de possibilidades. Você paga um preço razoável e todos os problemas de sua vida serão resolvidos num passe de mágica. Ou, no caso, com um clique do seu mouse.
Parece que algum devoto da igreja católica, invejoso do sucesso do Macumba On-line, também lançou seu site particular. Chama-se Meu Santo e já conta com milhões de associados. O negócio lá é o seguinte: o interessado escolhe o santo de sua preferência (de uma lista de mais de 200) e faz o seu pedido. Depois paga a promessa com santinhos virtuais ao “módico” preço de 50 reais para cada graça alcançada. Não é mesmo uma graça? Os depoimentos de pessoas agradecidas impressionam. Embora pareça quase inocente, com seu foco mais voltado para conseguir o que se deseja em nome do bem, não se pode negar que essa ideia também se transformou em algo muito lucrativo para o seu dono. E o mais estarrecedor: qualquer um de nós pode fazer o mesmo, basta um pouco de criatividade e um certo tino comercial para que não seja mais preciso se preocupar em sair por aí procurando emprego. O mundo está cheio de otários ingênuos dispostos a pagar qualquer valor para conseguir o que querem sem fazer grande esforço.
Essas são duas das buscas que dá para fazer quando estamos desesperados. Quem tiver tempo e principalmente paciência (eu não tenho), deve encontrar uma infinidade de outras comunidades que prometem o reino dos céus ainda em vida. Sinal dos tempos, dirão os propensos a ver catástrofe em tudo. Hilário, penso eu, depois de ter desligado o computador sem ter sentido a menor tentação de endereçar alguma mandinga a um eventual desafeto. Prefiro acender uma vela para outro santo. O que fez com que eu me perguntasse o seguinte: a culpa é do jogo ou do jogador? É ótimo que existam todas as opções possíveis dentro desse fascinante mundo da internet. O problema é quando não sabemos mais fazer as filtragens mínimas entre o que interessa e o que é absolutamente irrelevante. E pensei naquela maravilhosa assertiva, tão cara aos exegetas: “Desconfie de qualquer religião que não tenha pelo menos dois mil anos”. A banalização da fé é sintoma inequívoco de que estamos escolhendo os caminhos mais fáceis, os que dão menos trabalho. Estamos nos tornando verdadeiramente preguiçosos, achando muito cansativo até rezar. Parece mais seguro fazer uma terceirização básica para conseguir o que se deseja. Dói um pouco no bolso, mas o resultado promete vir a galope.
Assim, quase num piscar de olhos, o inimaginável pode se tornar real. Ao menos, presumivelmente. Hoje em dia, nada disso me deixa deprimido e não fico por aí vociferando que é o fim dos tempos. Estamos encontrando, isso sim, outras maneiras de tentar solucionar problemas ancestrais. As consequências de usar métodos pouco ortodoxos para alcançar tantas benesses? Ainda é cedo para dizer algo conclusivo. Um passeio desses não torna nenhum de nós mais sábio ou iluminado. Mas quem sabe essa nova fé virtual possa acabar diluindo um pouco a crise existencial que parece assolar a tantos. Na pior das hipóteses, você pode passar algum tempo brincando de ter o poder que a realidade lhe sonega. Mas não esqueça de colar um papelzinho no canto do seu computador com a seguinte frase de Einstein: “Só existem duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana”. Bom divertimento.
domingo, 1 de agosto de 2010
Macumba virtual
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