Educação classe C
Quando todo o esforço que a aprendizagem exige é deixado de lado, o resultado é um nivelamento rasteiro
O Brasil está virando um grande varejo. E isso não seria necessariamente ruim. Com a merecida ascensão social das classes menos privilegiadas financeiramente, um imenso contingente de pessoas passou a ter acesso a quase todos os bens de consumo disponíveis no mercado. Nunca as lojas venderam tanto. Nunca vimos tantos cartões de crédito circulando. O que antes era proibitivo passou a estar presente na casa de pessoas que moram em vilas modestas. Todo mundo está comprando sem parar. E viajando, viajando muito. Parabéns para nossos governantes que conseguiram essa estabilidade econômica. É bom não esquecer os terríveis anos de inflação que assombraram o nosso passado. Você consegue se imaginar, hoje, vivendo com taquicardia, a remarcação de preços que chegavam a quase dobrar em apenas um mês? Não acredito, dirão os que não conheceram esses dias angustiantes. Diante da lembrança de uma realidade como essa, há que se comemorar o consumo como uma mola propulsora para o crescimento. Mas só para um tipo de crescimento.
Cabe sinalizar alguns aspectos não tão agradáveis nesse momento em que a classe operária vai ao paraíso. Será que ela não esqueceu de carregar alguma coisa na mala? Educação, talvez? Corro o risco de parecer exigente, mas o que tenho visto nas ruas, nos restaurantes, em cinemas e teatros, para ficar restrito aos espaços de convivência coletiva, não é nada animador. Dirão os mais ponderados e menos passionais do que eu: bons modos não têm nada a ver com dinheiro. Concordamos todos, em uníssono. Só que pouco adianta você ter acesso a uma TV de LCD ou a um refrigerador duplex se esqueceu (ou não aprendeu) que a base para uma convivência civilizada é o respeito pelo outro. Está tudo ficando muito vulgar. Para levar às nossas moradias o que estão produzindo, fazemos qualquer concessão. Vale para o que está sendo servido no seu almoço até para o filme arrasa quarteirão. O que conta, afinal, são os números. O sucesso passou a ser medido unicamente de forma quantitativa. E sabemos muito bem que a qualidade não anda passeando entre as multidões.
Que fique claro: esse não é um posicionamento elitista e muito menos preconceituoso. O que defendo é a ideia de que não adianta só preencher a sala e a cozinha com quinquilharias. Ou ler unicamente os livros que venderam mais de cem mil cópias. Idem para filmes que preveem o fim do mundo ou a invasão de alienígenas. Estamos ficando preguiçosos demais, cedendo ao senso comum. Observem as músicas que tocam em altíssimos, insuportáveis decibéis nos carros rebaixados e com película escura revestindo os vidros. Observem as obras que merecem os holofotes. Observem como estamos falando no celular. A lista poderia se estender muito mais. Só para não esquecer um item bem interessante: comida não precisa estar sempre atrelada à palavra rodízio.
As obras de história que li ao longo da vida me mostraram que não vivemos no pior dos mundos. Pelo contrário. Eu continuaria escolhendo mil vezes o nosso. Se na época de Shakespeare suas peças eram assistidas avidamente pelo povo em praça pública, é bom não esquecer a violência que permeava tudo e o escasso valor que o ser humano tinha então. Matar o outro sempre foi um ato banal para a nossa raça. Quando não uma diversão. Pouco importa que seja com um tacape ou usando a bomba atômica. Resumo da ópera: o que precisamos observar é o comportamento e o reflexo de determinadas atitudes em nossa forma de ver e sentir a nós e aos que estão ao nosso redor. Quando todo o esforço que a aprendizagem exige é deixado de lado, optando-se pelo caminho mais fácil, o resultado é o nivelamento mais rasteiro. Tudo para todos – essa poderia ser uma boa máxima para a verdadeira democracia, não a que serve apenas de slogan verbal para políticos oportunistas.
Minha sugestão? Podíamos ser um pouco mais polidos quando estamos em praça pública. E estamos cada vez mais. Alguém sempre nos vê e nos avalia. E isso pode ser bom também. Não fomos feitos para a liberdade incondicional. Precisamos de alguns monitoramentos. Dica que vale para todos nós: esvazie a casa e preencha o cérebro. Parar, meditar, ampliar as escolhas, mas a partir de critérios pessoais. Intransferíveis.
Que pena: mostrar-se bem-educado passou a ser quase uma atitude blasé. - Gilmar Marcílio.
Cabe sinalizar alguns aspectos não tão agradáveis nesse momento em que a classe operária vai ao paraíso. Será que ela não esqueceu de carregar alguma coisa na mala? Educação, talvez? Corro o risco de parecer exigente, mas o que tenho visto nas ruas, nos restaurantes, em cinemas e teatros, para ficar restrito aos espaços de convivência coletiva, não é nada animador. Dirão os mais ponderados e menos passionais do que eu: bons modos não têm nada a ver com dinheiro. Concordamos todos, em uníssono. Só que pouco adianta você ter acesso a uma TV de LCD ou a um refrigerador duplex se esqueceu (ou não aprendeu) que a base para uma convivência civilizada é o respeito pelo outro. Está tudo ficando muito vulgar. Para levar às nossas moradias o que estão produzindo, fazemos qualquer concessão. Vale para o que está sendo servido no seu almoço até para o filme arrasa quarteirão. O que conta, afinal, são os números. O sucesso passou a ser medido unicamente de forma quantitativa. E sabemos muito bem que a qualidade não anda passeando entre as multidões.
Que fique claro: esse não é um posicionamento elitista e muito menos preconceituoso. O que defendo é a ideia de que não adianta só preencher a sala e a cozinha com quinquilharias. Ou ler unicamente os livros que venderam mais de cem mil cópias. Idem para filmes que preveem o fim do mundo ou a invasão de alienígenas. Estamos ficando preguiçosos demais, cedendo ao senso comum. Observem as músicas que tocam em altíssimos, insuportáveis decibéis nos carros rebaixados e com película escura revestindo os vidros. Observem as obras que merecem os holofotes. Observem como estamos falando no celular. A lista poderia se estender muito mais. Só para não esquecer um item bem interessante: comida não precisa estar sempre atrelada à palavra rodízio.
As obras de história que li ao longo da vida me mostraram que não vivemos no pior dos mundos. Pelo contrário. Eu continuaria escolhendo mil vezes o nosso. Se na época de Shakespeare suas peças eram assistidas avidamente pelo povo em praça pública, é bom não esquecer a violência que permeava tudo e o escasso valor que o ser humano tinha então. Matar o outro sempre foi um ato banal para a nossa raça. Quando não uma diversão. Pouco importa que seja com um tacape ou usando a bomba atômica. Resumo da ópera: o que precisamos observar é o comportamento e o reflexo de determinadas atitudes em nossa forma de ver e sentir a nós e aos que estão ao nosso redor. Quando todo o esforço que a aprendizagem exige é deixado de lado, optando-se pelo caminho mais fácil, o resultado é o nivelamento mais rasteiro. Tudo para todos – essa poderia ser uma boa máxima para a verdadeira democracia, não a que serve apenas de slogan verbal para políticos oportunistas.
Minha sugestão? Podíamos ser um pouco mais polidos quando estamos em praça pública. E estamos cada vez mais. Alguém sempre nos vê e nos avalia. E isso pode ser bom também. Não fomos feitos para a liberdade incondicional. Precisamos de alguns monitoramentos. Dica que vale para todos nós: esvazie a casa e preencha o cérebro. Parar, meditar, ampliar as escolhas, mas a partir de critérios pessoais. Intransferíveis.
Que pena: mostrar-se bem-educado passou a ser quase uma atitude blasé. - Gilmar Marcílio.
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