A polêmica continua e nada prenuncia o seu fim. A expansão da tecnologia é boa ou traz mais malefícios para o homem? Como tudo na vida, um posicionamento radical só impede que vejamos com clareza o que melhorou e o que resultou em malogro, depois que nos instalamos dentro do universo virtual. Preciso fazer um mea culpa. Durante muitos anos vociferei contra a invasão da internet, atribuindo a ela a responsabilidade pela degradação dos relacionamentos. Reconheço que me exacerbei. As pessoas nunca se encontraram tanto, nunca tiveram tantas possibilidades de comparar, analisar e escolher o que mais se adapta ao seu modo de ver a realidade. Há os exagerados, claro. Esses que se sentem totalmente obsoletos quando não estão em rede social. Twitter, Facebook, blogs, Orkut, chats... Um verdadeiro inferno. Mas não é desses que estou falando.
Veja como a internet possibilitou a pluralidade de pensamentos. Hoje, uma parcela considerável da humanidade fica sabendo quase que instantaneamente o que acontece em qualquer parte do mundo. Qual é o ganho? Está ficando mais difícil para os donos da verdade esconderem os seus atos de tirania. Não por acaso uma recente campanha publicitária, muito premiada, mostra isso. Numa sacada genial, colocou-se a imagem de três dos maiores ditadores da atualidade – Hugo Chávez, Raúl Castro e Mahmoud Ahmadinejad – com uma expressão de pavor, no momento em que surge um simples ratinho na sala em que despacham. Mas não um ratinho comum: o que aparece é um mouse de computador. Para quem se acostumou a mandar indiscriminadamente, nada assusta mais do que constatar que a informação está disponível a qualquer um. O exemplo mais sintomático é a recente saída do Google da China, depois de sofrer pressões durante anos. Para um sistema político tão fechado, é extremamente perigoso que as pessoas tenham acesso a outras realidades.
Se conclui que a disseminação geral e irrestrita do que acontece longe dos nossos olhos pode ser a melhor ferramenta para a construção de uma democracia. E mais, muito mais do que isso. Imagine-se morando numa pequena cidade do interior. À parte os encantos bucólicos, a quietude dos contatos mais íntimos que se pode estabelecer com amigos e vizinhos, não há muita graça em passar os dias fazendo sempre a mesma coisa. Se você for adolescente, pior ainda. É o tédio total. Um exemplo disso está no premiado filme Os Famosos e os Duendes da Morte, do gaúcho Esmir Filho. Claro, quanto mais a gente avança, quanto mais vai abrindo portas, mais aumenta nossa fome e a vontade de ir além. Pode ser um passaporte para a angústia. Mas tenho gostado muito dessa perspectiva que nos joga para além de nós mesmos. Isso significa encontrar o outro. Se você é dos que se preocupam com o rumo que as coisas estão tomando, imagine-se na Idade Média, por exemplo. Não sendo rei ou um nobre qualquer, seu destino quase que certo seria o da servidão completa ao seu amo e senhor.
Reconheçamos: os avanços tecnológicos não precisam ser exorcizados e nem endeusados. Eles trazem grandes benefícios e também podem nos induzir a uma solidão brutal, mesmo tendo milhões a um clique de distância. Tudo depende do uso que fazemos deles. Tenho buscado o meio termo. Acolho com simpatia as novidades nessa área, mas sempre com um olhar crítico. Lembro que não preciso ser uma vítima desse processo. Uma boa conversa, olho no olho, também pode provocar uma revolução.
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