sexta-feira, 9 de abril de 2010

Desencontros


  • Grupo  RBS

    Você pode realizar bons estudos sociológicos frequentando bares, botecos e afins. É lá que costumam se reunir grupos de homens e mulheres, buscando se divertir. Separadamente. O jogo de sedução, felizmente, corre solto. Mas há algo de errado nessa história. Tenho amigos que, apesar de saírem muito à noite, continuam reclamando da solidão.

    Como traduzir isso? Parece que a festa termina quando a porta desses estabelecimentos se fecha. O máximo a que se sentem autorizados é fazer parcerias provisórias. Que podem se estender até a manhã do dia seguinte, mas não muito além disso. Estou falando de pessoas entre trinta e cinco e cinquenta anos, média de idade que se encaixa nesse perfil. O fato é que, apesar de toda a liberdade conquistada, ainda há muitos entraves dificultando o caminho.

    Mulheres buscam companheiros que as ouçam, que guardem algum resquício de sensibilidade, aliado a uma boa dose de testosterona. Para elas, a idade desses eventuais futuros namorados não tem muita importância. Seu olhar está menos atrelado à rigidez muscular e mais a um desejo de partilhar o cotidiano – coisas bem simples, como uma ida ao cinema, ao supermercado, jantar num restaurante. Filhos já não são uma premissa básica para que fiquem juntos. A perspectiva muda com o passar do tempo e os valores adquirem nova configuração.

    Homens são mais predadores, sucumbem diante da beleza física, transformando o caráter e a personalidade da eventual presa em algo muitas vezes secundário. Entre risos de viés e pequenas investidas que demandam uma certa capacidade de aceitar a rejeição, seguem cumprindo um papel que lhes foi destinado desde sempre. Muitas vezes essa aproximação é feita mais de equívocos do que de acertos. O medo de iniciar um vínculo mais profundo os afasta de mulheres que se posicionam com segurança em relação ao que querem. Dividir poder ainda assusta, quando nos acostumamos a dar a palavra final em quase tudo.

    Eles querem, elas querem, mas o encontro não acontece. Se acontece, é meramente físico, tendo alguns desdobramentos nem sempre felizes. Ou seja, todos empenhados em viver aos pares, mas amargando tantas frustrações que acabam se sentindo com o prazo de validade já vencido. Quem está fugindo de quem? Como no excelente filme Corra, Lola, Corra, passam a maior parte do tempo em estado de angústia, atravessando todo tipo de obstáculo, sem perceber que o final feliz pode depender de um pequeno gesto, um caminho diferente que se tome. A ousadia de parar e reconhecer quem nos interessa ou quem devemos descartar.

    É reconfortante constatar que o universo social tem facilitado consideravelmente as aproximações. Talvez pequenos ajustes pudessem evitar uma boa dose de tortura emocional. Ainda é possível encontrar seres que habitam o mesmo planeta que nós. Menos taquicardia, menos voracidade ao virar o pescoço feito um periscópio. Não é fácil, claro, quando percebemos que o relógio biológico pode se transformar num inimigo. A velha dualidade sempre existirá, mas quando ela se converte numa arma só aumenta a tristeza que tem recoberto de sombras o olhar de tantos.

    Que a noite seja mais do que um duelo. Seja o reconhecimento de que a fome é a mesma para todos os que buscam.

  • Eles querem, elas querem, mas o encontro não acontece

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