segunda-feira, 3 de março de 2008

Jogos de sedução

Jogos de sedução

Elas reclamam. Muito. Dizem que os moços, esses moços, já não se interessam mais em levar a relação adiante quando recebem o sinal verde. A sedução parece não ser capaz de prescindir do mistério, da dúvida, a cruel dúvida que nos faz investir, mesmo com o medo de ser rejeitado. Tudo parece se resumir numa única frase: "É só ter a certeza de que gosto dele e pronto, é como se um balde de água fria caísse sobre minha cabeça". Difícil essa história de homens e mulheres se encontrando para uma investida amorosa. Sexo é outra coisa. É tão bom quanto, mas não se dá ao luxo de preterir a presa do momento. Disponibilidade é questão de desejo. E desejo precisa e deve ser saciado. De preferência, o mais rápido possível.

Não sou PhD no assunto, mas fico bastante espantado quando vejo relacionamentos que poderiam ser muito promissores chegar ao fim só porque um dos jogadores não soube usar a tática adequada para vencer a partida. E aí fica cada um no seu canto, reclamando deste mundo cruel, todo feito de solidão e dor. Claro que um charme aqui, outro acolá, não pode ser dispensado, sob pena de começar o namoro como se já estivéssemos comemorando bodas de ouro. Todo flerte pressupõe esse "ai, eu não quero, nem adianta insistir", morrendo de vontade de fazer o contrário. Braços e mãos e boca em ação desenfreada. Mas os olhos, os olhos que não traem nunca... difícil fazer de conta que não estamos nem aí.

Uns de Marte, outros de Vênus, quem já não decorou essa expressão? O fato é que estamos tendo dificuldade em estabelecer vínculos onde a sinceridade predomine. Não dá para gostar e dizer que gosta, mesmo? Assim, simples e objetivamente? Que bichos estranhos nós somos. Até nossas historinhas de amor precisam ter um enredo onde o comandante da hora dá as ordens. Talvez tudo se resuma a isso mesmo: poder. É preciso dominar e ter a convicção de que a presa, frágil e surpreendida, caiu na armadilha. Doce e sonhada, mas ainda assim, uma armadilha. Eles reclamam menos do que elas. Numa pesquisa informal que fiz sobre o assunto, as queixas são, em sua quase totalidade, das mulheres. Horas e mais horas de produção em frente ao espelho, combina calça com detalhe da blusa, sapato de salto altíssimo, e batom e cabelo e coisa e tal... E o resultado, enfim, não varia muito. Frustrante. São elas que dizem. Meu papel é o de ser um discreto interlocutor, aquele que ouve, acolhe as queixas e as processa mentalmente na hora da reflexão.

Considerando o grau de insatisfação que isso tem gerado, e se me fosse solicitado um parecer, nem em sonhos eu pensaria em sugerir que fossem desvelados todos os mistérios, tirados todos os véus. Quem não sabe que a noite seduz muito mais do que a luz do sol? A sutileza e um certo ar de desinteresse sempre surtiram um efeito danado. Ninguém duvida que nossa raça não corre o menor risco de extinção. Brinca aqui, brinca ali e os casamentos têm proliferado de maneira emocionante. Para alguns, até assustadora. Porém, feitas as contas, pode-se concluir que estratégias amorosas são usadas por muitas espécies animais. Mas não precisamos exagerar. Em tempos como esses que vivemos, quando a disponibilidade parece estar implícita em cada frase de apresentação, não deixa de ser paradoxal tantas queixas aparecerem nas conversas rotineiras das garotas. Talvez seja simplesmente uma questão de ajustes. E de descobrir se existe muito alarido de um lado ou um exagerado desinteresse do outro. Uma amiga confidenciou: "Eu não tenho a menor vontade de ficar desempenhando o papel da difícil, daquela que parece estar eternamente em busca do príncipe encantado. Se eu gosto, nada me faz dizer o contrário. Só que nos 15 primeiros minutos parece que a partida já está perdida". A pouca predisposição em se comprometer amorosamente só tem feito aumentar o coro dos descontentes. Não sei se há 40 ou 50 anos era diferente. Alguns juram que sim. Provavelmente fosse mais complicado aproximar um homem e uma mulher, só isso. Deus nos livre de voltar ao tempo em que parecíamos dois grupos de estrangeiros falando línguas diferentes. Pelo menos agora a comunicação não está tão difícil. Mas que ainda existem muitos mal-entendidos, isso se evidencia pela lista de queixas que qualquer solteiro que anda à espreita de seu par tem para relatar.

No mais, toda essa brincadeira pode ser divertida para quem tem espírito juvenil, adolescente. Desconfio que a maturidade quer repousar seu cansaço dentro da concha de outras mãos, sem a necessidade de ser um estrategista 24 horas por dia. Até porque bons jogadores nem sempre precisam ou conseguem chegar ao pódio. Muitas vezes, o prazer se concentra todo em ensaiar algumas novas jogadas.

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